segunda-feira, 29 de setembro de 2008

AVALIAÇAO- AFINAL, QUEM ESTAMOS A IMITAR?


MARIA LUISA MOREIRA, em artigo de opinião intitulado de "A treta educativa de que somos todos iguais e temos todos os mesmos direitos", faz uma comparação das nossas escolas com as que viu em Inglaterra. Pela situação burlesca em que este governo está a colocar os "professorzecos" deste País, vale a pena transcrever, na íntegra e com a devida vénia para com a autora, o artigo completo. Ei-lo, então:

"Bristol. Inglaterra, cidade de médias dimensões, chuva, uma escola cheia de miúdos, cerca de mil, e quatro escolas estrangeiras de visita: Espanha, Portugal, Noruega e Lituânia. Seris mais uma experiência profissional, uma das muitas que já integrei, e não mereceria lugar no jornal se não tivesse vivido momentos que me fazem pensar para além do profissional.
Fiquei impressionada com o rigor, com a formalidade, da escola que visitei. Os alunos, miúdos entre os dez e os dezassete anos, usam uniforme, cumprem horário- não há campainha- são castigados e premiados, cumprem regras e são educados para o reconhecimento da autoridade e o respeito da hierarquia. Aqueles miúdos não precisam de toques estridentes de campainha para saberem que devem dirigir-se para as aulas, não arrumam os seus materiais em algazarra, ao som irritante da dita cuja. Desde pequenos aprendem a regular-se pelos seus relógios e, para eles, é normal e correcto que assim seja. Estes miúdos e professores têm aulas de apenas sessenta minutos, entram às 8,30 horas e saem, sempre, às 14, 30. Estes alunos e professores Têm tempo para viver para além da escola: para ler, estudar, conviver, brincar, fazer desporto, etc. No entando estes miúdos não têm mais insucesso escolar do que os portugueses e, pelo contrário, de forma geral mostram muito maior domínio das competências básicas. Então, parece-me, está provado que o sistema português, que abusa do tempo passado na sala de aula e minimiza o rigor, está completamente errado! Um professor inglês, surpreso face ao tempo que os nossos alunos passam na escola e face à duração das aulas, mostrou-me um artigo científico onde se provava que, para além de sessenta minutos, a capacidade de concentração e trabalho de qualquer criança e/ou jovem é nula. Perante esta situação, eu, que hà muito desconfio do sistema de ensino português, fiquei angustiada. Será que a equipa ministerial, as várias desde há muitos anos, não conhecem outras realidades, não fazem estudos, não comparam metodologias e sucessos, não lêem revistas científicas, não estudam as mais recentes filosofias e psicologias da aprendizagem!? E, para além disso, como pode a UE, a tal união de proximidades, de objectivos comuns, aceitar regras tão profundamente diferentes entre os diferentes estados membros? Porque , dos cinco paises presentes, Portugal é o único com aulas de 90 minutos (e 135, que barbaridade!), o único em que os alunos passam tantas horas na escola, o único em que ainda vigora a treta educativa de que somos todos iguais e temos todos os mesmos direitos! Em Inglaterra, os miúdos crescem aprendendo e compreendendo que o professor é detentor de sabedoria, de poder conferido por um estatuto profissional, que deve ser respeitado e obedecido. Os mais pequenos, miúdos de onze anos, com o seu uniforme de calças pretas e camisola azul-turquesa, respeitam até o seu delegado de turma que, para se distinguir do todo da turma, usa ... gravata! Quando me contaram, sorri. Achei que era mais uma loucura exagerada dos ingleses. Mas, agora, vivi a experiência, observei os miúdos e, sinceramente, lamentei a triste realidade do meu país...
Um país sem regras, um lugar onde vale tudo, um espaço onde os limites são confusos, não pode funcionar! Mais uma vez, como já outras vezes me aconteceu, dei comigo a pensar o que é que, de facto, e com efeitos visíveis, foi feito em termos de educação cívica e cultural, desde 1974 até hoje. A resposta, para não ser pessimista e porque acabei de chegar cheia de esperanças, é que quase nada. Porque não se pode educar sem regras, sem impor limites, sem definir hierarquias e sem fomentar autonomia!
Bom, eu não queria nada viver em Inglaterra. Não gosto da chuva contínua, dos edifícios tristes, nem da língua grosseira. Mas invejo o modelo educativo que eles praticam. Invejo um povo que não tem medo de dizer que é diferente ser-se professor ou aluno, que não receia ser apelidado de fascista apenas por estabelecer e fazer cumprir regras. Esta gente, os ingleses de hoje, descendem de quem viveu a guerra e reconstruiu um país. Será que a nós nos falta, ainda, a experiência da guerra? Terror, já nos conhecemos.....".