terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

INDIGNAÇÃO LEGÍTIMA

São imensos os "mails" que me chegam ao correio. Nesta "embrulhada" louca do ME, sem paralelo na prepotência Salazarista, pelo menos no que se refere ao sistema de ensino, ouvem-se gritos de desespero entre a entrega e a sonegação dos OI (objectivos individuais). Isto é de loucos!!! Até parece que os objectivos educacionais não são colectivos!!!!!.... Até parece que esta pequena nação não consegue "afinar" as poucas cordas da viola educativa. Não admira: cada governo muda de política, educativa ou agrária, ao sabor de sensibilidades que se consideram "bem pensantes" e mais iluminadas que as anteriores. Resultado? Uma "DIARREIA LEGISLATIVA" como diz o colega Aristides Sousa em grito que me chegou à caixa de correio. Com a devida vénia aqui o transcrevo.

Car@ Colega,



Não obstante as contingências da vida, nesta semana que se inicia, julgo ser necessário reflectir algumas questões relativas à avaliação de desempenho docente (ADD), pois dia 6 é a data limite para a entrega dos objectivos individuais no nosso Agrupamento.

Tenho lido muito do que circula por e-mail; tenho acompanhado os blogues; sigo esforçadamente o que na imprensa vai aparecendo.

Como cada um, sinto-me exausto nesta luta, mais por sentir que o Governo e o ME não olham a meios para intimidar, atemorizar e aterrorizar uma classe inteira que luta há mais de um ano pela defesa da dignidade; uma classe que só deseja poder trabalhar e dar o melhor de si; uma classe exaurida, perdida e extenuada nesta luta.

Contudo, o que verdadeiramente me choca e ofende, enquanto pessoa e profissional, é ver alguém vergar-se perante o medo e o terror que criam à sua volta, é sentir que a força da razão, do sentimento, da luta, da dignidade cedem passo ao terrorismo psicológico e à chantagem de quem não tem de seu lado outra força senão a de algum poder: físico, psicológico, de hospedaria, legislativo ou de propagando. Ceder à ameaça é indigno de gente formada e informada, é homologar a cobardia, é vilipendiar a condição de pessoa e de profissional. Nesta luta, e nesta fase da mesma, sobram os exemplos de coerência, de dignidade, de união, de firmeza, de carácter, o que nos deve identificar a todos como professores que diariamente dão o melhor de si ao país, que continuamente se privam da família, do tempo de lazer, de almoçar e de jantar a horas, dos amigos, que diariamente emprestam os seus recursos para servir a Educação do país (é o tempo de trabalho que vai muito além das 40 horas, é o trabalho em horário pós-laboral sem qualquer gratificação nem suplemento, são as reuniões à noite para servir os direitos da comunidade, é a energia, os serviços de Internet e demais consumíveis em casa a custas próprias, o computador e suas actualizações, é o escritório de casa por não haver condições na escola onde trabalhar, são os custos de comunicação ao serviço da actividade profissional, é o traz, faz e leva trabalho para exercer a profissão com dignidade, é o ter de fazer agora todo o tipo de provas e de documentos que esta diarreia legislativa e normativa impõe, é o não poder gozar férias noutro tempo senão quando a profissão nos disponibiliza, é o ficar refém de calendário de exames, de reclamações e de provas para se poder ter vida planificada, é o não poder marcar uns dias de férias para atender a familiares enfermos ou a outra necessidade candente, é o estar sujeito aos apetites de políticos ignorantes sobre o Ensino, a Aprendizagem e a Educação...) e de tudo o resto que o comum dos profissionais da administração pública não tem de suportar (o insulto de clientes directos e indirectos, espaços de trabalho frios, desconfortáveis e deprimentes, a algazarra e a má-criação, as ofensas que crescem impunemente, a tristeza de crianças maltratadas, a dor de pessoas pequenas com grande sofrimento na curta história de vida, a aflição de um jovem em crescimento e a viver o desconcerto do eu com o mundo, a aflição dos alunos que têm dificuldades e toda uma geração que não valoriza a escola e o seu papel, por culpa de um país sem laivos de futuro e de um mundo deprimido pelos senhores do poder). No sector privado é certo que há quem trabalhe um pouco como nós, mas têm o merecido reconhecimento, e não nos deixemos enganar, de forma oficial ou de qualquer outra, como automóvel, telemóvel, seguros disto e daquilo, viagens, prémios de desempenho, almoço pago, suplemento remuneratório não declarado, horas extraordinárias, recompensa em espécie, etc..

E tudo isto, car@ colega, nós fazemos, nós damos, nós suportamos quantas vezes com o coração despedaçado, quantas vezes com preocupação e dor profundas, mas sempre com esforço, com dedicado empenho, porque os alunos são a nossa obra e ajudar o discente a aprender e a ser melhor cidadão, capaz, a nosso arte.

Tudo isto, car@ colega, fizemos e fazemos mesmo contra o desacerto de sucessivas políticas educativas, mesmo contra reiterados experimentalismos na Educação do país. Fazemos tudo e tudo temos feito pela melhor Educação e o melhor Ensino, esse mesmo que de reforma em reforma continua a ter de ser reformado.

É isto que os 150 mil que somos não mais aceitam; é por isto que uma classe inteira saiu à rua e gritou o desespero dos oprimidos; é por termos sido, nós, professores, insultados por este Governo, por esta equipa ministerial e por esta política, que não aceitamos este embuste que é o sistema de avaliação de desempenho docente, com ou sem Simplex, para este ou para qualquer outro tempo ou ano. Titulares e Não Titulares, Contratados ou Providos, do Quadro de Escola ou de Zona (Agrupamento doravante), professores da bolsa ou do saco, todos temos responsabilidades no presente e no futuro do sistema educativo, todos sofremos para todos ganharmos, TODOS, UNIDOS!!!!!!!!!!!!!
Como podemos argumentar que cedemos porque em causa está o nosso futuro?
Com que carácter deixamo-nos embalar, e justificamo-nos com os temores, na entrega dos objectivos individuais (OI) e rompemos com toda a luta, com todos os sacrifícios e com todos os custos destes meses?
Que colegas, e até amigos, somos se só olhamos para o nosso egoísmo e deixamos os nossos pares isolados, sós, desamparados na luta? Onde e quando desejamos ser respeitados na nossa integridade de pessoas e na nossa dignidade de profissionais?

É TEMPO DE GRITAR!

É TEMPO DE DIZER NÃO!

É TEMPO DE LUTA E MESMO DE INSURREIÇÃO!


Neste passo, ocorre-me Bocage, num momento de lúcida dor pela e na vida...


Meu ser evaporei na lida insana
Do tropel de paixões, que me arrastava;
Ah!, cego eu cria, ah!, mísero eu sonhava
Em mim quase imortal a essência humana.

De que inúmeros sóis a mente ufana
Existência falaz me não doirava!
Mas eis sucumbe a Natureza escrava
Ao mal que a vida em sua origem dana.

Prazeres, sócios meus e meus tiranos!
Esta alma, que sedenta em si não coube,
No abismo vos sumiu dos desenganos.

Deus, ó Deus!... Quando a morte à luz me roube,
Ganhe um momento o que perderam anos.
Saiba morrer o que viver não soube.




Com que dignidade nos deixamos tombar?!

Somos professores, não somos mercenários, por isso não nos vendemos, não estamos em saldo e não cumprimos missões sujas. Entregar os objectivos é trair o país, é trair os alunos, é trair a Educação, é destruir o Ensino, e subornar a aprendizagem. Entregar os objectivos é dizer sim hoje e sempre, é destruir a força política deste caso, e trespassar de morte a força dos professores organizados em movimentos e em organizações sindicais.
Colega, ser egoísta, pensar só no EU e justificar com o medo não é ser solidário com os demais. A solidariedade não se diz, pratica-se. É neste desabafo de alma despida, é neste sentir, que apelo à união, que peço que nem um só de nós entregue os OI, que desafio cada um para reforçar a luta e a fileira dos que não cedem a chantagem, dos que têm determinação, dos que sabem que pela luta e pelo trabalho construiremos um futuro melhor, que acreditam que pela determinação e pela afirmação do que sentem e que acreditam que deste modo serão felizes. Se cedermos, poderemos ter momentos de ilusão secreta, de satisfação de nossas pretensões, cujo alcance não é certo nem consequente à entrega dos OI, mas ficaremos com o sentimento de deslealdade e de termos partido este elo, como outros daí decorrentes. Gostava de ouvir cada um, gostava de sentir o nosso agrupamento unido e determinado.

Não há momentos fáceis, não há momentos ideais para sermos fortes, por isso espero que, num momento particularmente difícil, este meu contributo ajude à reflexão profunda e à tomada de posição mais acertada.
O Agrupamento merece e cada um sabe que poderá contar com todo o apoio e diligências que eu possa fazer, hoje e depois, porque o mundo não acaba no próximo dia 6, sendo que o seu destino, como o da nossa vida, também depende muito da acção de cada um de nós.
A submissão até pode funcionar como anestésico, mas jamais cura a dor que, mais tarde, mais forte se evidenciará.


Post-scriptum:

× além de abalado, estou sem paciência para reler o que escrevi, pelo que peço perdão pelos erros que nem descortine num relance. Não é correcto, mas é o que é e não me importo com mais;

× peço que este e-mail seja reenviado a todos, para que ninguém fique de fora.



Aristides Sousa-Tel. +351 258 826 961-Tlm. +351 919 985 537
Skype: aristidesmsousa
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