terça-feira, 29 de janeiro de 2008

MANUAIS ESCOLARES FACULTATIVOS


Mais um tiro na "arte de bem ensinar". Não fazem falta alguns manuais escolares!!!!
Vou falar da minha área disciplinar: a música. Passei trinta e oito anos a exigir aos alunos pouco material como essencial: caderno pautado, lápis e flauta. O manual nunca me preocupou. Parti sempre de uma melodia-canção e, a partir dela construia a aula. Nunca gostei de fazer aulas para "menino entreter". A finalidade não era essa. Há um programa definido que deve ser concretizado e avaliado a nível nacional. Assim acontece em disciplinas sujeitas a exames nacionais. Porque não com a música? Há aspectos concretos em cada disciplina que, pouco a pouco, têm de ser ministrados para que o aluno obtenha os "skills" (gosto tanto destes inglesismos!...) que o legislador teve em vista quando organizou o programa. Na disciplina de Educação Musical, na última dúzia de anos, apareceram em forma de objectivos a atingir, mas esqueceram-se de apresentar modelos dos passos intermédios que o professor deve percorrer e explicar ao aluno. São um conjunto de "boas intenções" sem uma proposta de tarefas concretas tais como: leituras, ditados, interpretações de ritmos e melodias, execuções das mesmas na flauta, audições comentadas, canto a uma e mais vozes.... Surgiram, a partir de meados da década de oitenta, manuais até dizer "basta", qual deles o pior. Muita história da música, mais mundial do que nacional, melodias (quantas vezes cheinhas de erros, sobretudo no que se refere à falta de respeito pela acentuação tónica) que nada tinham a ver com a nossa cultura nem com a faixa etária (10-12 anos), muita cor e bonequinhos falantes. Como se isso não chegasse, passavam um atestado de incompetência aos professores: passaram a vir acompanhados de um ou mais CDs para "ajudar" a exemplificar os conteúdos. Para mim, docente que passou por todos os graus de ensino (genérico e vocacional), o melhor manual para o ensino genérico, mesmo escrito à mão, foi o de José Firmino com estratégias bem definidas em relação aos objectivos a alcançar e previstos nos programas. Depois desse manual, seguido por milhares de docentes em todo o País, mesmo sem obrigatoriedade de aquisição por parte dos alunos, apareceram imensos que só vieram causar perturbação na docência da disciplina de música e noutras. Perante este panorama causou-me espanto a obrigatoriedade de realizar provas escritas para alunos auto-propostos nas disciplinas de música, área de projecto, educação física,etc. Em termos de escrita não há nada de concreto nestas três disciplinas. Mas é obrigatório realizar provas "para inglês ver" e complicar a vida aos alunos. Havia mais responsabilidade no que se fazia e exigia quando o mais importante era "saber ler e contar".
A minha experiência diz: faça-se um pequeno livro de âmbito nacional (de preferência, regional) com três dúzias de melodias, das mais simples para as mais complexas (um acidente ou dois) e deixem que os professores explorem essas melodias no que se refere ao canto, ao ritmo, à melodia, à execução na flauta, à harmonização ORFF, etc. Não são capazes? Então é necessário enviá-los para a "reciclagem". Ah! E digam com clareza o que é que o aluno é obrigado a levar para a aula x, y ou z. Não convém dar tanta liberdade de interpretação da lei num País que é tão pequeno. Demasiada democracia também é vício e, sobretudo, inoperância.

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