quarta-feira, 23 de julho de 2008

O DESPUDOR DOS GOVERNANTES

Nota: encontrei este artigo de Manuel Fonseca e achei-o muito interessante. Retrata o que penso e o que sinto. Não resisti, com a devida vénia, em transcrevê-lo.

"Na primeira quinzena de Julho realizaram-se vários debates sobre o tema supra, quer na Assembleia da República
quer em diversos órgãos da comunicação social. Tiveram bastante repercussão nas audiências devido ao interesse que o assunto suscitava e à avaliação dum Governo que entra numa fase decisiva que conduz às eleições legislativas e autárquicas.
Como cidadãos não podemos ser alheios ao rumo da vida nacional e às falácias que a envolvem. Nos debates realizados ouvimos intervenções da mais diversa índole: umas, com sabor à comicidade e derrotismo; outras, sensatas e apostadas em apontar caminhos de recuperação e desenvolvimento. «O País está de rastos! A educação está de pernas para o ar! A governação é um circo! As obras que se fazem são megalómanas e encontravam alternativas com reduzidos custos para o Estado e para o Povo. A projectada auto-estrada para Bragança melhor seria substituída por uma boa estrada nacional sem custos de portagem. Os socialistas incómodos para o Governo vão para um exílio dourado... »: foram afirmações do Dr. Medina Carreira num dos debates televisivos. E outras semelhantes. Foram momentos de humor, sobretudo pelo repentismo das declarações do antigo ministro das Finanças e a surpresa do jornalista José Gomes Ferreira... Foi um pôr a nu as pústulas dum corpo minado pela doença, sem tergiversações e respeitos humanos. Um pouco mais tarde desse dia, surgia novo debate sobre o mesmo tema, noutro canal televisivo. E pudemos ouvir uma intervenção bastante esclarecedora de alguém que apontava directrizes bastante sensatas. E reconhecia que o grande problema nacional é um problema de falta de estabilidade nas traves mestras da vida nacional, como educação, saúde, justiça, etc. Cada governo que entra em funções faz tábua rasa de tudo que vem do passado, mesmo recente. E improvisa. Impõe. Ameaça. E afirmava que neste âmbito a governação é muito diferente da do País vizinho, a Espanha. Lá têm alternado o PSOE e o PP, mas as reformas respeitam as estruturas fundamentais anteriores. Desse modo, conseguiu elevar o País a um nível económico assinalável, com capacidade
para enfrentar as crises internacionais. Os impostos são muito mais reduzidos e os salários mais elevados.
Em Portugal, há um problema sério no que diz respeito ao emprego. Desde há cerca de 10 anos, as empresas vão fechando de forma galopante, pequenas, médias, grandes, nacionais e internacionais. E não vemos os sucessivos governos a enfrentarem o problema de frente e a incrementarem a viabilidade de sanidade financeira e de alternativas. Por mais que se fale de formação, de computadores, net, banda larga, folclore, promessas, o certo é que o País está a afundar-se cada vez mais. Quem pode, parte para o estrangeiro à procura de emprego, sabe-se lá em que condições.
A respeito da Educação, que conheço por experiência de trabalho docente, assistimos a diversas reformas. Recordo a implementada pelo Dr. Roberto Carneiro, era Primeiro-ministro o Dr. Cavaco Silva. Foi uma reforma profunda. Ela apareceu na chamada Lei de Bases do Sistema Educativo, Lei n.º 46/86, de 14 de Outubro. Visava reformular e renovar todo o sistema. Foram necessários vários anos para dar plena viabilidade e extirpar diversos defeitos. Por que razão há-de cada novo ministro ignorar o passado e transformar a Educação numa Babilónia? Foi por acaso que aqueles duzentos mil docentes saíram à rua a protestar contra a última reforma? Portugal tem homens inteligentes, sensatos e capazes. Mas vivem na sombra porque a ambição e o despudor falam mais alto e atropelam todos os que se lhes opõem. Costuma-se dizer que “Para quem não tem vergonha, todo o mundo é seu”.
Manuel Fonseca"

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