sexta-feira, 10 de outubro de 2008

A VIDA ATRIBULADA DE UM PROFESSOR.....

Confissão de uma "mártir" da Ministra.

O que faz um ‘professorzeco’ do 2º ou 3º ciclo, em média, durante um ano lectivo?

Mandei estes dados para um deputado da Assembleia da República que nos pedia o número de alunos que em média um professor tem, porque por lá consta que é uma média de 7 ou 8 alunos/professor… Respondi ao e-mail, mas resolvi acrescentar toda esta informação...Se alguém duvidar é questão de arranjar autorização para investigar.

Lecciono 6 turmas em Educação Visual, no total de 117 alunos
Lecciono 1 turma em Formação Cívica, de 19 alunos
Lecciono 1 turma em Área Projecto, de 23 alunos
Lecciono Aulas de Complemento Curricular no 1.º ciclo, no Clube de Artes, do 1.º ao 4.º ano, no total de 21 alunos
Lecciono o Clube de Jornalismo, no total de 13 alunos
Logo trabalho em contextos específicos com 193 alunos

A - Documentação/ papeis criados, preenchidos e tratados:
1- Início do ano: Planificações (1 pág. por turma/disciplina/área = total de 10 págs.); Critérios de Avaliação/correcção (1 pág. por turma/disciplina/área = total de 10 págs.); Descriminação de competências a atingir (1 pág. por turma/disciplina/área = total de 10 págs.); articulações interdisciplinares (1 pág. por turma = total de 6 págs.); (...)
são fotocopiadas (1 exemplar para o dossier de Directores de Turma, no Plano Curricular de Turma, 1 ex. para o Conselho Executivo, anexo à acta, 1 ex. para os nossos registos pessoais, 1 ex. para o dossier de Departamento ...)
Logo, num total de 36 páginas (120 fotocópias)
Se temos alunos com "NEE", serão mais 4 páginas de documentação, fotocopiadas em triplicado, logo 12 págs.). Ficam de fora testes diagnósticos (117 fotocópias e 6 relatórios = 6 págs.)

2- A meio de cada período (Avaliações Intercalares): registo de avaliações intercalares (1 pág. por turma/disciplina = total de 8 págs.) (...)
* Logo 3 períodos, num ano lectivo, no total de 24 págs.)

3- Final de período: fichas de avaliação(1 pág. por aluno = total de 193 págs. Fotocopiadas em duplicado); ficha de avaliação de Formação Cívica, Área Projecto, Clube de Jornalismo, Educação para a saúde, Clube de Artes (1.º ciclo) (1 pág. por disciplina/área = total de 5 págs.)
*Logo, num total de 198 págs. (394 fotocópias)
*Logo, tendo 3 períodos lectivos, dá um total de 594 págs. (1182 fotocópias)

4- Sou Directora de Turma: início do ano: Plano Curricular de Turma (25 págs., fotocopias: 1 ex. para dossier de Direcção de Turma, 1 ex. para o Conselho Executivo); Planos de Recuperação (este ano tive 6 alunos com) (cada plano 4 págs., logo 24 págs., fotocopiadas duplicado); registo de faltas (10 disciplinas, registadas em fichas e depois no sistema informático); preenchimento das fichas de avaliação (total de 19 páginas); (...)
*Logo, num total de 78 págs. (98 fotocópias)

5- No último período, ainda relatórios de avaliação: para Formação Cívica (1 pág.); para Área Projecto (1 pág.); para Clube de jornalismo (1 pág.); como Directora de turma: para avaliação da turma (2 págs.); para Planos de Acompanhamento (1 pág.); para Retenção (1 pág. por aluno, depende das retenções); para Retenção Repetida (3 pág. por aluno, depende das retenções repetidas); para Planos de Recuperação (1 pág. por aluno, vou fazer 6, porque tenho 6 alunos em Planos = 6 págs.); para Director de Turma, sobre o meu trabalho desenvolvido (média 3 págs.); para o Clube (1 pág.); para o 1.º Ciclo (1 pág.); (...)
*Logo, num total no mínimo de 22 págs. (44 fotocopias)

Como compreenderá, deve estar a escapar-me alguma coisa, ou haver aqui alguma margem de erro, …
Em resumo (ao longo dum ano lectivo):
-a) Trabalho com..._193 alunos
-b) Posso criar, analisar, preencher, ("passam-me pelas mãos") ... _758 páginas (papel)
-c) Estão envolvidos aproximadamente... _1 456 fotocópias/PB
-d) Faço em média... _17 367 registos (mão livre/ informatizados) em documentos oficiais (explico a seguir)
Nas fichas de avaliação dos alunos (1 por aluno = 193 alunos) são registados dados (cruzes, abreviaturas de menções qualitativas, etc.):
-Educação Visual_7 dados/aluno x 117 alunos x 6 turmas x 3 períodos = 14742 registos;
-Formação Cívica_7 dados/aluno x 19 alunos x 3 períodos = 399 registos;
-Área Projecto _5 dados/aluno x 23 alunos x 3 períodos = 345 registos;
Como Directora de Turma (preencher dados como: nome, números, faltas, cruzes de avaliação global, cruzes de recomendações ao encarregado de educação) = aproximadamente: 33 dados/aluno x 19 alunos x 3 períodos = 1881 registos
-e) Somando os registos oficiais com os pessoais (alínea a + e), dá..._30 003 registos totais (explico a seguir)
Se considerar os dados que manipulo antes de os introduzir nos documentos oficiais, então será, só na disciplina de Educação Visual, o seguinte:
3. Trabalhos (média) por período x 12 registos (12 critérios de avaliação/correcção em Excel) x 3 períodos x 117 alunos (em Educação Visual) = 12636 registos pessoais

B - Reuniões ao longo do ano lectivo: 91 reuniões
-a) Conselhos de Turma:
1 Setembro + 1 início ano lectivo (após as aulas começarem) + 1 fins de Setembro + 1 Intercalar do 1.º período + 1 final do 1.º período (avaliação) + 1 intercalar do 2.º período + 1 final do 2.º período (avaliação) + 1 intercalar do 3.º período + 1 final do 3.º período (avaliação) x 6 turmas = total de 54 reuniões
-b) Encarregados de Educação, porque sou também Directora de Turma:
1 Início aulas + fim 1.º período + fim 2.º período + fim do 3.º período x 1 turma = total de 4 reuniões (fora as reuniões que vou tendo com Encarregados de Educação nas horas de atendimento e a título individual).

-c) Outras reuniões:
Reunião Geral (2 reuniões/ano) + Conselho de Directores de Turma (10 reuniões/ano) + Áreas Curriculares não Disciplinares (3 reuniões/ano) + Clubes e Projectos (3 reuniões/ano) + Departamento (11 reuniões/ano) + reuniões diversas, tipo preparar actividades extra-curriculares (média 4 reuniões/ano) = total de 33 reuniões

C - Outros indicadores, que "não têm papel", nem convocatórias:
- Ensino Educação Visual, sou "psicóloga", "mãe/pai", procuro resolver problemas de indisciplina, de zangas, de "guerras e guerrinhas", ouço desabafos, confidências, avalio e envio relatórios para Segurança Social, Comissão de Protecção de Crianças e Jovens, quando é necessário; _nota: trabalho com adolescentes.
- Atendo Pais e Encarregados de Educação, articulo com eles, mas não recebo outros Pais ou Encarregados de Educação de que tanto preciso, porque não querem, ou, não podem vir à escola;
- Participo na organização, colaboração de actividades extra-curriculares, tipo: Festa de Natal, Carnaval, Páscoa, "Feira de Maio", Encerramento Ano Lectivo, (...);
- Faço a paginação do jornal da escola (28 págs. /jornal x 3 períodos = 84 págs.)
- (Fazendo uma média de dois trabalhos por período na minha disciplina), observo e acompanho: 117 alunos x 2 trabalhos/média/período x 3 períodos = 702 trabalhos práticos.
- (...)

FIM ?! - Não...

Falaram em muita Burocracia? Que os Professores que não trabalham e têm muito tempo livre, muitas férias? Que os Professores dão as suas "aulitas" e estão na sala de professores aos "montes" sem fazer nada?
Então pergunto: - Quem faz tudo isto ?! O gato da vizinha!?
Não falei das aulas de substituição... nem contabilizei as horas dadas à Escola/ Min. Educação (sim, porque não as pagam e são retiradas ao meu tempo livre, da minha família) para além daquelas que são inscritas no horário de trabalho, nem contabilizei os custos pagos do meu bolso, em fotocópias, em papel e tinta, em material informático, em electricidade, em espaço (quarto) usado na minha casa …porque o meu local de trabalho (e o meu ‘patrão’) não oferece condições sequer satisfatórias…

Também me esqueci, de lembrar que um professor é um ser, com direito a uma vida pessoal, a constituir família e a ter horas e momentos felizes e livres....
Até hoje, não me queixava do trabalho (excepto à família e amigos)… Mas agora digo: "BASTA"
Basta de mais burocracia, deixem-me dar aulas…
E, sobretudo, não admito que ao fim de tudo isto... me desrespeitem... que me chamem de ‘’professorzeca’’ … que não faço nada … e digam que não entendo de legislação …

E OS DISPARATES CONTINUAM!... (no nosso ME)


*ACEITA, COLEGA, ESTA FLOR: vê nela a cabecinha do teu aluno que precisa de ser afagada e iluminada com a tua experiência e saber mas que, tantas vezes, só te permitem embrulhá-la na burocracia da papelada para Ministra ver".

Avaliação de Professores no Mundo

Avaliação de Professores em Portugal
Onde se inspirou o governo português para conceber um modelo de avaliação tão burocrático? Em declarações ao órgão de propaganda do PS a ministra da educação afirma que se inspirou em modelos de avaliação existentes na Inglaterra, Espanha, Holanda e Suécia (Março de 2008). Os professores destes países negam tal afirmação. O modelo que maiores semelhanças tem com o português é o chileno, mas seja mesmo assim menos burocrático.
Estamos pois perante o sistema de avaliação mais burocrático do mundo, e que fomenta o fim do trabalho cooperativo nas escolas. Não admira que ao aperceber-se da gravidade do problema, o próprio ME tenha vindo a apelar para que cada escola simplifique o sistema, criando desta forma uma disparidade de modelos e de critérios de avaliação no país.

Consultas:

Avaliação de Professores na Alemanha
1. Categorias. Não existe qualquer categoria similar à de professor titular. Apenas existem quadros de escola, tal como existia em Portugal.
2. Aulas Assistidas: Acontecem durante o período de formação e depois de 6 em 6 anos. A aula tem a duração de 45 minutos e é assistida pelo chefe da Direcção escolar. Essa assistência tem como objectivo a subida de escalão. Depois de atingido o topo da carreira, acabaram-se as aulas assistidas e não existe mais nenhuma avaliação.
3. Horários dos Professores. Não existe diferença entre horas lectivas e não lectivas. Os horários completos variam entre 25 e 28 horas semanais.
4. Avaliação de Alunos. As reuniões para efeito de avaliação dos alunos têm lugar durante o tempo de funcionamento escolar normal, nunca durante o período de interrupção de actividades ou de férias. Tanto na Alemanha como na Suíça, França e Luxemburgo, durante os períodos de férias as escolas encontram-se encerradas. Encerradas para todos, alunos, pais, professores e pessoal de Secretaria. Os alunos e os professores têm exactamente o mesmo tempo de férias.
Não existe essa dicotomia idiota entre interrupções lectivas, férias, etc.
5. Horários escolares: Nas escolas de Ensino Primário as aulas vão das 8.00 às 13 ou 14 horas. Nos outros
níveis começam às 8 .00 ou 8.30 e terminam às 16.00 ou, a partir do 10° ano,às 17.00.
6. Férias: cerca de 80 dias por ano, embora possa haver ligeiras diferenças de Estado para Estado.
7. Máximo de alunos por turma: 22


Avaliação de Professores na Suíça
1. Categorias. Não existe qualquer categoria similar à de professor titular. Apenas existem quadros de escola (Professores do quadro).
2. Aulas Assistidas: Estas aulas só ocorrem durante a formação e para a subida de escalão.
3. Férias. As escolas durante o período de férias estão encerradas. Total de dias de férias: cerca de 72 (pode haver diferenças de cantão para cantão) .
4. Os horários escolares: Idênticos aos da Alemanha. Até ao 4° ano de escolaridade, inclusive, não há aulas de tarde às quartas-feiras, e terminam cerca das 11.30.
5. Máxima de alunos por turma: 22.

Avaliação de Professores na Bélgica
1. Categorias. Não existe qualquer categoria similar à de professor titular. Apenas existem quadros de escola (Professores do quadro).
2. Aulas Assistidas. As aulas Assistidas só ocorrem quando são solicitadas pela direcção da escola, mas não contam para efeitos de progressão dos docentes.
3. Avaliação das Escolas. A avaliação dos professores está englobada na avaliação das escolas. Avalia-se o trabalho da escolas, e desta forma o trabalho dos professores que nelas exercem a sua actividade.

Avaliação de Professores na Inglaterra e País de Gales
1. Categorias. Os professores do ensino público estão divididos em função de duas categorias salariais: A Tabela Salarial Principal (dividida em 6 níveis) e a Tabela Salarial Alta (dividida em 3 níveis).
2. Avaliação. A progressão nas tabelas depende dos resultados da avaliação contínua e que envolve o director da escola, o conselho directivo e os "avaliadores de "performance".

Avaliação de Professores na França
1. Categorias. Não existe qualquer categoria similar à de professor titular.
2. Aulas assistidas. As aulas assistidas só ocorrem no mínimo de 4 em 4 anos, a regra é de 6 em 6 anos, e são observadas por um inspector com formação na área do professor. O objectivo destas aulas é essencialmente formativo, tendo em vista ajudar os professores a melhorar as suas práticas lectivas.
3. Progressão na carreira. Para além da antiguidade, são tidos em conta os resultados da observação das aulas e as acções de formação frequentadas pelos professores.

Avaliação dos Professores em Espanha
1.Descentralização. A única legislação nacional que existe sobre avaliação dos professores e sistemas de promoção contemplam apenas o ensino básico. Cada "Comunidade Autonómica" estabelece os seus próprios critérios para a progressão dos professores.
3. Avaliação. Embora não existam progressões automáticas, na maioria dos casos as mesmas são feitas com base na antiguidade.

Avaliação de Professores nos EUA
1. Descentralização.. Cada um dos 13 mil distritos escolares tem os seus próprios critérios de recrutamento, de carreira, avaliação de desempenho, promoção ou de pagamento.
2. Avaliação. Não existe um sistema único de avaliação. Nos distritos onde existe avaliação, esta pode ser feita pelo director da escola ou entre os próprios professores.
3. Progressão. Em geral os aumentos salariais são feitos em função do tempo de serviço.

Avaliação de Professores no Chile
O Ministério da Educação de Portugal terá copiado o modelo chileno de avaliação ?. ( Consultar ) . Estes modelos foram já objecto de uma comparação muito elucidativa das suas semelhanças e diferenças.

Comparação
Modelo de Avaliação Português / Modelo de Avaliação Chileno

Periodicidade-Portugal
1. A avaliação global é feita de 2 em 2 anos.
2. A avaliação serve sobretudo para contagem de serviço para a progressão na carreira (existem cotas para a categoria de titulares).

Periodicidade-Chile
1. A avaliação é feita de 4 em 4 anos.
2. A avaliação serve sobretudo para premiar financeiramente os melhores desempenhos, os quais pode ir até 25% do salário mínimo nacional chileno (não existem cotas para estes prémios).

Instrumentos de Avaliação
1. Fichas de auto-avaliação do professor;
2. Ficha dos objectivos individuais de cada professor;
3. Ficha de avaliação dos objectivos individuais do professor;

3. Portefólio do professor
4. Avaliação do portefólio do professor avaliado;
5. Entrevista pelo professor avaliador. Implica o preenchimento de ficha de avaliação.
6. Avaliação pelo coordenador do Departamento Curricular. Implicando o preenchimento de ficha de avaliação).
7. Avaliação pela Comissão Executiva (Director). Implica o preenchimento de ficha de avaliação).
8. Assistência do avaliador a pelo menos 3 aulas em cada ano lectivo. Implica o preenchimento de 3 fichas de avaliação.

1. Fichas de Auto-avaliação;
2. Entrevista pelo professor avaliador;
3. Avaliação do director ou do chefe técnico da escola;
4. Portfólio, que inclui a gravação em vídeo de uma aula, de 4 em quatro anos.

Níveis de Desempenho e Resultados da Avaliação

1. Excelente (com cota fixada pelo governo). Duas vezes seguidas reduz em quatro anos o tempo de serviço para acesso à categoria de titular; Quatro vezes seguidas dá direito a prémio de desempenho.
2. Muito Bom (com cota fixada pelo governo). Duas vezes seguidas reduz 2 anos o tempo;
3. Bom. Classificação mínima necessária para progredir.
4. Regular. Não progride. Proposta de acção de formação contínua;
5. Insuficiente. Não progride. Pode determinar a reconversão profissional.

1. Destacado ou Competente. Recebe um abono suplementar mensal. O abono dura três e quatro anos.
2. Insatisfatório. Repete a avaliação no ano seguinte. Se na segunda avaliação tiver o mesmo resultado e deixa de dar aulas, durante um ano. Se tiver uma terceira avaliação negativa sai da carreira, mas recebe um abono.

Nota:
Esta informação é a verdade, sem demagogias e não serve para caçar votos.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

AVALIAÇAO- AFINAL, QUEM ESTAMOS A IMITAR?


MARIA LUISA MOREIRA, em artigo de opinião intitulado de "A treta educativa de que somos todos iguais e temos todos os mesmos direitos", faz uma comparação das nossas escolas com as que viu em Inglaterra. Pela situação burlesca em que este governo está a colocar os "professorzecos" deste País, vale a pena transcrever, na íntegra e com a devida vénia para com a autora, o artigo completo. Ei-lo, então:

"Bristol. Inglaterra, cidade de médias dimensões, chuva, uma escola cheia de miúdos, cerca de mil, e quatro escolas estrangeiras de visita: Espanha, Portugal, Noruega e Lituânia. Seris mais uma experiência profissional, uma das muitas que já integrei, e não mereceria lugar no jornal se não tivesse vivido momentos que me fazem pensar para além do profissional.
Fiquei impressionada com o rigor, com a formalidade, da escola que visitei. Os alunos, miúdos entre os dez e os dezassete anos, usam uniforme, cumprem horário- não há campainha- são castigados e premiados, cumprem regras e são educados para o reconhecimento da autoridade e o respeito da hierarquia. Aqueles miúdos não precisam de toques estridentes de campainha para saberem que devem dirigir-se para as aulas, não arrumam os seus materiais em algazarra, ao som irritante da dita cuja. Desde pequenos aprendem a regular-se pelos seus relógios e, para eles, é normal e correcto que assim seja. Estes miúdos e professores têm aulas de apenas sessenta minutos, entram às 8,30 horas e saem, sempre, às 14, 30. Estes alunos e professores Têm tempo para viver para além da escola: para ler, estudar, conviver, brincar, fazer desporto, etc. No entando estes miúdos não têm mais insucesso escolar do que os portugueses e, pelo contrário, de forma geral mostram muito maior domínio das competências básicas. Então, parece-me, está provado que o sistema português, que abusa do tempo passado na sala de aula e minimiza o rigor, está completamente errado! Um professor inglês, surpreso face ao tempo que os nossos alunos passam na escola e face à duração das aulas, mostrou-me um artigo científico onde se provava que, para além de sessenta minutos, a capacidade de concentração e trabalho de qualquer criança e/ou jovem é nula. Perante esta situação, eu, que hà muito desconfio do sistema de ensino português, fiquei angustiada. Será que a equipa ministerial, as várias desde há muitos anos, não conhecem outras realidades, não fazem estudos, não comparam metodologias e sucessos, não lêem revistas científicas, não estudam as mais recentes filosofias e psicologias da aprendizagem!? E, para além disso, como pode a UE, a tal união de proximidades, de objectivos comuns, aceitar regras tão profundamente diferentes entre os diferentes estados membros? Porque , dos cinco paises presentes, Portugal é o único com aulas de 90 minutos (e 135, que barbaridade!), o único em que os alunos passam tantas horas na escola, o único em que ainda vigora a treta educativa de que somos todos iguais e temos todos os mesmos direitos! Em Inglaterra, os miúdos crescem aprendendo e compreendendo que o professor é detentor de sabedoria, de poder conferido por um estatuto profissional, que deve ser respeitado e obedecido. Os mais pequenos, miúdos de onze anos, com o seu uniforme de calças pretas e camisola azul-turquesa, respeitam até o seu delegado de turma que, para se distinguir do todo da turma, usa ... gravata! Quando me contaram, sorri. Achei que era mais uma loucura exagerada dos ingleses. Mas, agora, vivi a experiência, observei os miúdos e, sinceramente, lamentei a triste realidade do meu país...
Um país sem regras, um lugar onde vale tudo, um espaço onde os limites são confusos, não pode funcionar! Mais uma vez, como já outras vezes me aconteceu, dei comigo a pensar o que é que, de facto, e com efeitos visíveis, foi feito em termos de educação cívica e cultural, desde 1974 até hoje. A resposta, para não ser pessimista e porque acabei de chegar cheia de esperanças, é que quase nada. Porque não se pode educar sem regras, sem impor limites, sem definir hierarquias e sem fomentar autonomia!
Bom, eu não queria nada viver em Inglaterra. Não gosto da chuva contínua, dos edifícios tristes, nem da língua grosseira. Mas invejo o modelo educativo que eles praticam. Invejo um povo que não tem medo de dizer que é diferente ser-se professor ou aluno, que não receia ser apelidado de fascista apenas por estabelecer e fazer cumprir regras. Esta gente, os ingleses de hoje, descendem de quem viveu a guerra e reconstruiu um país. Será que a nós nos falta, ainda, a experiência da guerra? Terror, já nos conhecemos.....".

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

AVALIAÇAO DE PROFESSORES -Comparaçao




Avaliação de Professores em Portugal
Onde se inspirou o governo português para conceber um modelo de avaliação tão burocrático? Em declarações de propaganda a ministra da educação afirma que se inspirou em modelos de avaliação existentes na Inglaterra, Espanha, Holanda e Suécia (Março de 2008). Os professores destes países negam tal afirmação. O modelo que maiores semelhanças tem com o português é o chileno, mas seja mesmo assim menos burocrático.
Estamos pois perante o sistema de avaliação mais burocrático do mundo, e que fomenta o fim do trabalho cooperativo nas escolas. Não admira que ao aperceber-se da gravidade do problema, o próprio ME tenha vindo a apelar para que cada escola simplifique o sistema, criando desta forma uma dispararidade de modelos e de critérios de avaliação no país.

Avaliação de Professores na Alemanha*
1. Categorias. Não existe qualquer qualquer categoria similar à de professor titular. Apenas existem quadros de escola, tal como existia em Portugal.
2. Aulas Assistidas: Acontecem durante o período de formação e depois de 6 em 6 anos. A aula tem a duração de 45 minutos e é assistida pelo chefe da Direcção escolar. Essa assistência tem como objectivo a subida de escalão. Depois de atingido o topo da carreira, acabaram-se as aulas assistidas e não existe mais nenhuma avaliação.
3. Horários dos Professores. Não existe diferença entre horas lectivas e não lectivas. Os horários completos variam entre 25 e 28 horas semanais.

4. Avaliação de Alunos. As reuniões para efeito de avaliação dos alunos têm lugar durante o tempo de funcionamento escolar normal,nunca durante o período de férias. Tanto na Alemanha como na Suíça, França e Luxemburgo, durante os períodos de férias as escolas encontram-se encerradas. Encerradas para todos, alunos, pais, professores e pessoal de Secretaria. Os alunos e os professores têm exactamente o mesmo tempo de férias. Não existe essa dicotomia idiota entre interrupções lectivas, férias, etc.
5. Horários escolares: Nas escolas de Ensino Primário as aulas vão das 8.00 às 13 ou 14 horas. Nos outros níveis começam às 8 .00 ou 8.30 e terminam às 16.00 ou, a partir do 10° ano,às 17.00.
6. Férias: cerca de 80 dias por ano, embora possa haver ligeiras diferenças de Estado para Estado.
7. Máximo de alunos por turma: 22

Avaliação de Professores na Suíça*

1. Categorias. Não existe qualquer categoria similar à de professor titular. Apenas existem quadros de escola (Professores do quadro).
2. Aulas Assistidas: Estas aulas só ocorrem durante a formação e para a subida de escalão.
3. Férias. As escolas durante o período de férias estão encerradas. Total de dias de férias: cerca de 72 (pode haver diferenças de cantão para cantão) .
4. Os horários escolares: Idênticos aos da Alemanha. Até ao 4° ano de escolaridade, inclusive, não há aulas de tarde às quartas-feiras, e terminam cerca das 11.30.
5. Máxima de alunos por turma: 22.


Avaliação de Professores na Bélgica

1. Categorias. Não existe qualquer categoria similar à de professor titular. Apenas existem quadros de escola (Professores do quadro).
2. Aulas Assistidas. As aulas Assistidas só ocorrem quando são solicitadas pela direcção da escola, mas não contam para efeitos de progressão dos docentes.
3. Avaliação das Escolas. A avaliação dos professores está englobada na avaliação das escolas. Avalia-se o trabalho da escolas, e desta forma o trabalho dos professores que nelas exercem a sua actividade.


Avaliação de Professores na Inglaterra e País de Gales**
1. Categorias. Os professores do ensino público estão divididos em função de duas categorias salariais: A Tabela Salarial Principal (dividida em 6 níveis) e a Tabela Salarial Alta (dividida em 3 níveis).
2. Avaliação. A progressão nas tabelas depende dos resultados da avaliação contínua e que envolve o director da escola, o conselho directivo e os "avaliadores de "perfomance".


Avaliação de Professores na França

1. Categorias. Não existe qualquer categoria similar à de professor titular.
2. Aulas assistidas. As aulas assistidas só ocorrem no mínimo de 4 em 4 anos, a regra é de 6 em 6 anos, e são observadas por um inspector com formação na área do professsor. O objectivo destas aulas é essencialmente formativo, tendo em vista ajudar os professores a melhorar as suas práticas lectivas.
3. Progressão na carreira. Para além da antiguidade, são tidos em conta os resultados da observação das aulas e as acções de formação frequentadas pelos professores.


Avaliação dos Professores em Espanha
1.Descentralização. A única legislação nacional que existe sobre avaliação dos professores e sistemas de promoção contemplam apenas o ensino básico. Cada "Comunidade Autonómica" estabelece os seus próprios critérios para a progressão dos professores.
3. Avaliação. Embora não existam progressões automáticas, na maioria dos casos as mesmas são feitas com base na antiguidade.


Avaliação de Professores nos EUA**
1. Descentralização. . Cada um dos 13 mil distritos escolares tem os seus próprios critérios de recrutamento, de carreira, avaliação de desempenho, promoção ou de pagamento.
2. Avaliação. Não existe um sistema único de avaliação. Nos distritos onde existe avaliação, esta pode ser feita pelo director da escola ou entre os próprios professores.
3. Progressão. Em geral os aumentos salariais são feitos em função do tempo de serviço.


Avaliação de Professores no Chile
O Ministério da Educação de Portugal terá copiado o modelo chileno de avaliação ?. ( Consultar ) . Estes modelos foram já objecto de uma comparação muito elucidativa das suas semelhanças e diferenças.
Comparação***

Modelo de Avaliação Português (P) e Modelo de Avaliação Chileno (Ch)
Periodicidade
P-1. A avaliação global é feita de 2 em 2 anos.
Ch-1. A avaliação é feita de 4 em 4 anos.

P-2. A avaliação serve sobretudo para contagem de serviço para a progressão na carreira (existem cotas para a categoria de titulares).
Ch-2. A avaliação serve sobretudo para premiar financeiramente os melhores desempenhos, o qual pode ir até 25% do salário mínimo nacional chileno (não existem cotas para estes prémios).

Instrumentos de Avaliação
P-1. Fichas de auto-avaliação do professor;
P-2. Ficha dos objectivos individuais de cada professor;
P-3. Ficha de avaliação do objectivos individuais do professor;
P-3. Portefólio do professor
P-4. Avaliação do portefólio do professor avaliado;
P-5. Entrevista pelo professor avaliador.Implica o preenchimento de ficha de avaliação.
P-6. Avaliação pelo coordenador do Departamento Curricular. Implicando o preenchimento de ficha de avaliação).
P-7. Avaliação pela Comissão Executiva (Director). Implica o preenchimento de ficha de avaliação).
P-8. Assistência do avaliador a pelo menos 3 aulas em cada ano lectivo. Implica o preenchimento de 3 fichas de avaliação.
Ch-1.Fichas de Auto-avaliação;
Ch-2.Entrevista pelo professor avaliador;
Ch-3.Avaliação do director ou do chefe técnico da escola;
Ch-4. Portfólio, que inclui a gravação em video de uma aula, de 4 em quatro anos.

Níveis de Desempenho e Resultados da Avaliação
P-1. Excelente (com cota fixada pelo governo). Duas vezes seguidas reduz em quatro anos o tempo de serviço para acesso à categoria de titular; Quatro vezes seguidas dá direito a prémio de desempenho.
P-2. Muito Bom (com cota fixada pelo governo). Duas vezes seguidas reduz 2 anos o tempo;
P-3. Bom. Classificação mínima necessária para progredir.
P-4. Regular. Não progride. Proposta de acção de formação contínua;
P-5. Insuficiente. Não progride. Pode determinar a reconversão profissional.

Ch-1. Destacado ou Competente. Recebe um abono suplementar mensal. O abono dura três e quatro anos.
Ch-2.Insatisfatório. Repete a avaliação no ano seguinte. Se na segunda avaliação tiver o mesmo resultado e deixa de dar aulas, duarante um ano. Se tiver uma terceira avaliação negativa sai da carreira, mas recebe um abono.
.
Fontes:
* Informação de docentes nestes países. ** Expresso.*** Correio da Manhã, 31/3/2008

Nota. A burocracia que implica este sistema de avaliação, levou o próprio ME a apelar à sua simplicação.

domingo, 3 de agosto de 2008

SER PROFESSORA

Nota: este artigo chegou-me ao correio. Li-o e achei que corresponde inteiramente ao conhecimento que tenho de muitos casos no decorrer da minha vida docente. Há montes de m.... que não fazem a mínima falta para "fazer" um bom profissional e um bom cidadão. Há cada mente mais "iluminada"!!!!!
Ei-lo:

"SER PROFESSORA
Carta de uma professora ao 'Expresso''

Este ano lectivo, a minha escola abriu dois cursos de educação e formação: Electricista de Instalações e Assistente Administrativo. Sou professora de Língua Portuguesa e, normalmente, é possível aos docentes que pertencem ao quadro escolher os níveis que querem leccionar. Mesmo não tendo sido opção minha leccionar em turmas destes cursos, fui presenteada com quinze seres, projectos de electricistasde instalações, com idades compreendidas entre os 16 e os 18 anos. (... )
Fotocopiei o programa curricular dos módulos correspondentes ao 1º dos dois anos do curso. Fiquei logo céptica quando vi que, para futuros electricistas, os programas previam a leitura orientada de obras literárias como 'Falar Verdade a Mentir', de Almeida Garrett e 'A Saga' de Sophia de Mello Breyner Andresen.
É certo que a cultura nunca ocupa lugar e também é certo que fica sempre bem a um electricista saber as características do teatro do séc. XIX ( ... ), assim como a interessante história do mentiroso Duarte do 'Falar Verdade a Mentir', não vá de repente ser preciso que o electricista, no exercício da sua profissão, precise mesmo de falar verdade, embora estando a mentir ...
Também pode, a qualquer momento, ser necessário que o futuro electricista precise de dividir orações ( ... ).
Por favor, cérebros iluminados e destacados para conceberem os programas curriculares deste tipo de cursos, não sejam líricos!!! (... ) Venham até Condeixa-a-Nova ( ... ) e assistam à minha aula de Língua Portuguesa. Vão gostar de ver os 15 fabulosos projectos de electricistas a pedirem que não lhes ensine tais matérias pois não lhes servirão para exercer melhor a profissão e porque lhes tinham dito que, nestes cursos, 'as coisas' iam ser diferentes, sem matéria 'chata', só com assuntos ( ... ) relacionados com a vida mais prática (,,)
E assim vamos andando, rindo até com certas tiradas dos formandos, com as suas análises de texto boçais e bestiais, vazias de encanto poético mas cheias de conteúdo telúrico, para ser eufemística... Se não, vejam a veia poética de um formando, que, após a leitura da frase '... e Hans foi pai de cinco filhos', do conto 'A Saga' de Sophia de Mello Breyner, o único comentário de análise textual que conseguiu fazer foi:
'- E cum caraças, o homem fartou-se de martelar!!!' ....
ANABELA ROSA L. GOMES ESTÊVÃO, Coimbra "

quarta-feira, 23 de julho de 2008

O DESPUDOR DOS GOVERNANTES

Nota: encontrei este artigo de Manuel Fonseca e achei-o muito interessante. Retrata o que penso e o que sinto. Não resisti, com a devida vénia, em transcrevê-lo.

"Na primeira quinzena de Julho realizaram-se vários debates sobre o tema supra, quer na Assembleia da República
quer em diversos órgãos da comunicação social. Tiveram bastante repercussão nas audiências devido ao interesse que o assunto suscitava e à avaliação dum Governo que entra numa fase decisiva que conduz às eleições legislativas e autárquicas.
Como cidadãos não podemos ser alheios ao rumo da vida nacional e às falácias que a envolvem. Nos debates realizados ouvimos intervenções da mais diversa índole: umas, com sabor à comicidade e derrotismo; outras, sensatas e apostadas em apontar caminhos de recuperação e desenvolvimento. «O País está de rastos! A educação está de pernas para o ar! A governação é um circo! As obras que se fazem são megalómanas e encontravam alternativas com reduzidos custos para o Estado e para o Povo. A projectada auto-estrada para Bragança melhor seria substituída por uma boa estrada nacional sem custos de portagem. Os socialistas incómodos para o Governo vão para um exílio dourado... »: foram afirmações do Dr. Medina Carreira num dos debates televisivos. E outras semelhantes. Foram momentos de humor, sobretudo pelo repentismo das declarações do antigo ministro das Finanças e a surpresa do jornalista José Gomes Ferreira... Foi um pôr a nu as pústulas dum corpo minado pela doença, sem tergiversações e respeitos humanos. Um pouco mais tarde desse dia, surgia novo debate sobre o mesmo tema, noutro canal televisivo. E pudemos ouvir uma intervenção bastante esclarecedora de alguém que apontava directrizes bastante sensatas. E reconhecia que o grande problema nacional é um problema de falta de estabilidade nas traves mestras da vida nacional, como educação, saúde, justiça, etc. Cada governo que entra em funções faz tábua rasa de tudo que vem do passado, mesmo recente. E improvisa. Impõe. Ameaça. E afirmava que neste âmbito a governação é muito diferente da do País vizinho, a Espanha. Lá têm alternado o PSOE e o PP, mas as reformas respeitam as estruturas fundamentais anteriores. Desse modo, conseguiu elevar o País a um nível económico assinalável, com capacidade
para enfrentar as crises internacionais. Os impostos são muito mais reduzidos e os salários mais elevados.
Em Portugal, há um problema sério no que diz respeito ao emprego. Desde há cerca de 10 anos, as empresas vão fechando de forma galopante, pequenas, médias, grandes, nacionais e internacionais. E não vemos os sucessivos governos a enfrentarem o problema de frente e a incrementarem a viabilidade de sanidade financeira e de alternativas. Por mais que se fale de formação, de computadores, net, banda larga, folclore, promessas, o certo é que o País está a afundar-se cada vez mais. Quem pode, parte para o estrangeiro à procura de emprego, sabe-se lá em que condições.
A respeito da Educação, que conheço por experiência de trabalho docente, assistimos a diversas reformas. Recordo a implementada pelo Dr. Roberto Carneiro, era Primeiro-ministro o Dr. Cavaco Silva. Foi uma reforma profunda. Ela apareceu na chamada Lei de Bases do Sistema Educativo, Lei n.º 46/86, de 14 de Outubro. Visava reformular e renovar todo o sistema. Foram necessários vários anos para dar plena viabilidade e extirpar diversos defeitos. Por que razão há-de cada novo ministro ignorar o passado e transformar a Educação numa Babilónia? Foi por acaso que aqueles duzentos mil docentes saíram à rua a protestar contra a última reforma? Portugal tem homens inteligentes, sensatos e capazes. Mas vivem na sombra porque a ambição e o despudor falam mais alto e atropelam todos os que se lhes opõem. Costuma-se dizer que “Para quem não tem vergonha, todo o mundo é seu”.
Manuel Fonseca"

quinta-feira, 24 de abril de 2008

VIOLENCIA NAS ESCOLAS? QUE NOVIDADE!.......

Nota: o correio electrónico mete na caixa inúmeras mensagens (convites tentadores) que, para quem não está precavido podem ser um perigo. Há muitos exemplos disso mesmo. Mas também chegam "coisas" interessantes e dignas de ser lidas e relidas. A que se segue, embora sem saber de quem é, merece ser meditada.

Como "NÂO" educar as crianças
Por **Alice Vieira**, Escritora

Desculpem se trago hoje à baila a história da professora agredida pela aluna, numa escola do Porto, um caso de que já toda a gente falou, mas estive longe da civilização por uns dias e, diante de tudo o que agora vi e ouvi (sim, também vi o vídeo), palavra que a única coisa que acho verdadeiramente espantosa é o espanto das pessoas.
Só quem não tem entrado numa escola nestes últimos anos, só quem não contacta com gente desta idade, só quem não anda nas ruas nem nos transportes públicos, só quem nunca viu os 'Morangos com açúcar', só quem tem andado completamente cego (e surdo) de todo é que pode ter ficado surpreendido.
Se isto fosse o caso isolado de uma aluna que tivesse ultrapassado todos os limites e agredido uma professora pelo mais fútil dos motivos - bem estaríamos nós! Haveria um culpado, haveria um castigo, e o caso arrumava-se. Mas casos destes existem pelas escolas do país inteiro. (Só mesmo a sr.ª ministra - que não entra numa escola sem avisar...- é que tem coragem de afirmar que não existe violência nas escolas...)
Este caso só é mais importante do que outros porque apareceu em vídeo, e foi levado à televisão, e agora sim, agora sabemos finalmente que a violência existe! O pior é que isto não tem apenas a ver com uma aluna, ou com uma professora, ou com uma escola, ou com um estrato social. Isto tem a ver com qualquer coisa de muito mais profundo e muito mais assustador. Isto tem a ver com a espécie de geração que estamos a criar.
Há anos que as nossas crianças não são educadas por pessoas. Há anos que as nossas crianças são educadas por ecrãs.
E o vidro não cria empatia. A empatia só se cria se, diante dos nossos olhos, tivermos outros olhos, se tivermos um rosto humano. E por isso as nossas crianças crescem sem emoções, crescem frias por dentro, sem um olhar para os outros que as rodeiam.
Durante anos, foram criadas na ilusão de que tudo lhes era permitido. Durante anos, foram criadas na ilusão de que a vida era uma longa avenida de prazer, sem regras, sem leis, e que nada, absolutamente nada, dava trabalho. E durante anos os pais e os professores foram deixando que isto acontecesse.
A aluna que agrediu esta professora (e onde estavam as auxiliares-não-sei-de-quê, que dantes se chamavam contínuas, que não deram por aquela barulheira e nem sequer se lembraram de abrir a porta da sala para ver o que se passava?) é a mesma que empurra um velho no autocarro, ou o insulta com palavrões de carroceiro (que me perdoem os carroceiros), ou espeta um gelado na cara de uma (outra) professora, e muitas outras coisas igualmente verdadeiras que se passam todos os dias.
A escola, hoje, serve para tudo menos para estudar. A casa, hoje, serve para tudo menos para dar (as mínimas) noções de
comportamento. E eles vão continuando a viver, desumanizados, diante de um ecrã. E nós deixamos.
In //Jornal de Notícias// //,// 30.3.2008

'Pouco conhecimento faz que as criaturas se sintam orgulhosas. Muito conhecimento, que se sintam humildes. É assim que as espigas sem grãos erguem desdenhosamente a cabeça para o céu, enquanto que as cheias as baixam para a terra, sua mãe'. Leonardo Da Vinci

"Geração do Ecrã" no Texas, publicaram uma lista de 10 "conselhos" para* "criar* *um delinqüente*"._ É interessante meditar neste resumo.
1- Comece na infância a dar o seu filho tudo o que ele quiser. Assim, quando crescer, ele acreditará que o Mundo tem a obrigação de lhe dar tudo o que ele deseja.
2- Quando ele disser nomes feios, ache graça. Isso fá-lo-á sentir-se interessante.
3- Nunca lhe dê qualquer orientação religiosa. Espere até que chegue aos 21 anos e "decida por si mesmo".
4- Arrume tudo o que ele desarrumar: livros, sapatos, roupas. Faça-lhe tudo para que aprenda a atribuir aos outros toda a
responsabilidade.
5- Discuta com frequência na presença deles. Assim não ficará muito chocado quando o lar se desfizer mais tarde.
6- Dê-lhe todo o dinheiro que quiser.
7- Satisfaça todos os seus desejos de comida, bebida e conforto. Negar pode acarretar "frustrações prejudiciais".
8- Tome sempre o partido dele contra vizinhos, professores e autoridades. (Todos têm má vontade com o seu filho).
9- Quando ele se meter em alguma complicação séria, desculpe-se, dizendo que nunca o conseguiu dominar.
E, finalmente...
10- Prepare-se para uma vida de desgostos.

Vivemos num Mundo com tanta violência e visível falta de educação. Vale a pena pensarmos melhor nos valores que estamos a inculcar nos nossos filhos.
Se achou interessante esta mensagem reencaminhe-a ao maior número possível de pais, professores e futuros pais.
O Mundo precisa de gente de bem e a responsabilidade também é nossa.

*/"EDUQUEM AS CRIANÇAS E NÃO SERÁ PRECISO CASTIGAR OS HOMENS"/* TML>