domingo, 12 de outubro de 2008

COMO VEEM OS JORNALISTAS OS PROFESSORES?

NOTA: o que se segue foi enviado ao Diário do Minho devido a uma notícia nada clara (para não dizer tendenciosa) que em nada contribui para dignificação seja de quem for, muito menos do acto de educar e ensinar. Tal notícia mereceu-me a resposta que se segue.

“Professor da Francisco Sanches acusado de agredir aluna”

Este foi o cabeçalho da notícia publicada neste Diário, no dia 11 p.p., na página 3. O título, bem visível para um míope, ainda era salientado por uma fotografia da fachada principal da Escola. Salienta-se o “carrasco” (não identificado), salienta-se a “vítima” (não identificada) e salienta-se a Instituição, muito bem identificada!

O “carrasco” da aluna é um professor (qualquer) de Educação Física que, pela redacção da notícia, é um alvo a abater, um criminoso que deve ser julgado e, antes ainda, ser expulso da escola. A aluna e os Pais são as vítimas que reivindicam justiça perante os “factos” que, para já, não passam de hipóteses ou – quem sabe? – de queixinhas de meninos rebeldes e pais melífluos. Todavia, para Francisco de Assis, o autor do artigo, já não tem tanta importância o “aluno CEF que aterroriza docentes e colegas de escola” avaliando pelo ínfimo destaque que dá ao cabeçalho da mesma notícia.

Da análise ao título e ao corpo da notícia dá para concluir:
a) O Professor, sem razão aparente, chegou junto da miúda e calcou-a, espezinhou-a e esmagou até a ferir nas costas a ponto de precisar de ser socorrida no hospital. O jornalista não se informou se a menina estava a fazer “fitinhas”, se o gesto do Professor não teria sido um gesto inofensivo ou até amável (mas mal interpretado) e se o docente estaria de sapatilhas ou de botas com pitões. Neste caso, colocar o pé nas costas ou no rabo da menina seria mais doloroso.
b) O jornalista não se preocupou em saber qual o estado de espírito do docente , naquela hora e circunstância, no meio de tanta balbúrdia e desordem em que as aulas se transformaram sem que haja defesas para realizar uma aula com o mínimo de dignidade como, por exemplo, mandar o aluno dar uma volta. Conheça a legislação.
c) O jornalista não se preocupou em conhecer a pressão a que todos os docentes estão sujeitos, atulhados em legislação absurda e sem correspondência em qualquer país Europeu tendo paralelo, somente, com a legislação Chilena. Sabe, porventura, que qualquer docente está sujeito a passar a aula a mandar calar um aluno dito “hiper-activo” mas que não passa de um mal educado sem que o possa mandar para a rua? Quantas vezes apetece fugir da sala, tal o desânimo que se sente pelo fracasso de uma lição bem preparada mas estragada por um ou dois desses meninos super-protegidos!? Seria óptimo fazer uma experiência docente durante um mês para “apalpar” o caos a que chegou a “arte de ensinar” meninos completamente desinteressados e aturar pais para quem, os mesmo, são os melhores do mundo. Para esses, esperemos que não acabem as “novas oportunidades”.
Com tal notícia, Sr. Francisco Assis, não prestou um bom serviço nem à Educação nem à Informação. Contribuiu para descredibilizar a classe docente, para a intimidar ainda mais do que está, para elevar o grau de “mimalhice e proteccionismo” de que as nossas crianças sofrem por parte dos Pais que – já tem acontecido – mesmo com um ou dois filhos ainda dizem que não os conseguem aturar em casa. Mas nós, professores, aturamos 25 ou mais numa sala de aulas. Que lhe parece? Não chegou a essa conclusão com o “exemplar” aluno do CEF que refere na notícia? Louvou ou ajudou, porventura, a Escola e os seus docentes a resolver o caso deste aluno-problema? Só as notícias-escândalo é que interessam aos jornalistas?
Por último, contribuiu para descredibilizar uma Escola com uma elite de professores abnegados, cada vez mais escassos, que têm feito o possível e impossível para elevar o nível de sucesso escolar e de convivência sadia de modo que, na realidade, seja bom trabalhar na Francisco Sanches. Querem contribuir para isso? Então sejam criativos.

A. Costa Gomes

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