segunda-feira, 13 de outubro de 2008

"CONTAVA OS DIAS PARA METER A REFORMA"


Reportagem: "Contava os dias para meter os papéis da reforma"
(Jornal de Notícias-2008-10-08) por JOÃO QUEIROZ

Terminou a aula de lágrimas nos olhos. Foi a última da carreira de professor. Aos 62 anos, 36 dos quais dedicados ao ensino. António Moreira sentia que podia ter dado "muito mais" à profissão que só esperava abandonar quando não tivesse mais forças. Não deu porque "se sentiu a mais", num mundo muito diferente daquele no qual entrara há 36 anos atrás.

"A partir do momento em que comecei a sentir a profissão como um fardo, em que comecei a pensar que estava a mais, com a desconsideração cada vez maior relativamente à profissão, com tudo o que se dizia sobre os professorea, comecei a estudar seriamente a hipótese de pedir a reforma antecipada", explica este antigo professor do 2.º ciclo de Matemática e de Ciências da Natureza.

Desde aí, confessa, só pensava no dia em que podia, finalmente, trocar a sala de aula pela reforma. Algo que, no passado, não lhe passava pela cabeça. "Pensava que podia dar aulas até tarde, quando não tivesse mais forças. Mas o ambiente que se vive hoje nas escolas é insuportável... Cheguei a uma altura em que contava os dias que faltavam para meter os papéis da reforma", recorda António.

Quando o dia finalmente chegou, invadiu-se-lhe "um estranha sensação de alívio e de liberdade" que, cada vez mais, os seus antigos colegas também querem experimentar. E com penalizações na reforma ainda maiores do que a de António. "Muitos colegas meus estão a fazer o mesmo que eu. Vêm-se embora porque estão cansados com a forma como são tratados. E muitos deles estão a sair com penalizações muito significativas na reforma". conta.

Hoje, António não esconde que sente saudades das aulas e dos alunos. Sente que "podia ter sido mais útil em muitas coisas", que podia "ter dado muito mais à profissão e aos alunos". Mas garante que não podia continuar numa escola que sentia já não ser a sua.

NOTA: podia fazer minhas as palavras e os sentimentos do "António" em causa. Passei pelo mesmo apesar de a minha "paixão" por dar aulas, por estar com os alunos, por fazer da vida um desafio à inércia e à lei do menor esforço. A ditadura imposta por este governo e esta ministra à classe docente (e não só) é bem pior do que a que (não) senti antes do 25 de Abril. Sabíamos que havia respeito pela classe apesar de, como sempre, haver abusos em casos pontuais. Sempre os houve. Mas não é com o enxovalho pública dos agentes (do ensino, da segurança, da justiça....) que se vai a algum lado. Os governantes actuais levam a "palma" da desordem, do laxismo, da degradação dos costumes. Para conter o malfadado "déficit" decidem-se virar todas as leis vigentes de pernas para o ar e da noite para o dia. Nasceu um Portugal novo!!!!!.... Inventaram a "pólvora"!!!! E as opiniões dos outros (de toda a oposição) são estúpidas, são lixo, são desprezíveis perante as cabeças iluminadas dos novos "rapazes" que do leme.
"Entre mortos e feridos alguém deve escapar". Mas o restolho social vai ser imenso..... E todos dizem que assumem as consequências perante o País. Todavia, como na Ponte de Entre-os-rios, ninguém é responsabilizado pois todos trabalharam abnegadamente para o bem público, isto é, para as razões que levaram à queda da ponte e às suas consequências sedm retorno. Que pena alguns deles não fazerem parte do número dos desaparecidos!!!!.. Tarde e mal alguém conseguirá trazer este País, no campo da educação/ensino, a uma posição minimamente digna. Até nas universidades se instalou o nepotismo, o compadrio, o laxismo, a ganância por lucros fáceis de modo que se tornou necessário fechá-las. A família e a sociedade está esfarrapada graças a alguns energúmenos, pequeno número, que conseguem impor as suas ideias absolutamente à margem da lógica natural das coisas. Como são novos terão a oportunidade de recolher os cacos da loiça que partiram. Nós, os mais velhos, estamos na "natural" fila de espera, ainda lutando, com a consciência tranquila do dever cumprido. Deixo um conselho, pois já os posso dar: estudem um pouco da história das civilizações e vejam que género de contributo deram para a construção de uma sociedade mais justa, mais pacífica, mais alegre e consciente do "papel" individual e colectivo que a cada um, segundo as suas capacidades, compete construir.

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