segunda-feira, 14 de junho de 2010

INVESTIR NA CULTURA DA VIDA


O HOMEM DESTRÓI A CRIAÇÃO E A SI PRÓPRIO
(Texto de Elias Couto)
Que todas as instituições nacionais e transnacionais se comprometam a garantir o respeito pela vida humana, desde a sua concepção até ao seu fim natural.
1.Cultura da morte e negação da vida como direito absoluto
A segunda metade do século XX viu a generalização do aborto legal, a pedido, como um avanço jurídico indiscutível e um progresso no âmbito da liberdade pes-soal. Deste modo, a desprotecção legal da vida humana mais indefesa e inocente – a das crianças não nascidas – tornou-se um objectivo civilizacional de que nenhuma sociedade «progressista» podia prescindir. Conseguida a liberalização do aborto e a sua banalização por via legal, os promotores desta cultura da morte voltaram-se para o outro extremo da vida humana, onde ela se apresenta igualmente mais fragi-lizada – e encontram-se agora na linha da frente, tendo em vista a legalização e libe-ralização da eutanásia. No início, esta exigência de «progresso» era considerada como o último «recurso» de idosos ou doentes incuráveis. Hoje, porém, a eutanásia já é apresentada como um direito de qualquer pessoa, em qualquer fase da existên-cia que, por algum motivo, solicite auxílio médico para morrer – e, em casos extre-mos, um direito da família ou da sociedade face a pessoas que, por algum motivo, não sejam capazes de exercer autonomamente tal «direito» e cuja vida seja considerada sem qualidade.
2. Consequências
Relativamente à eutanásia, começamos apenas a vislumbrar o tipo de socie-dade impiedosa, violenta e profundamente egoísta para a qual nos encaminhamos. Quanto ao aborto, falam os números: em Portugal, 19.000 crianças foram legalmen-te eliminadas, antes de nascerem, só no ano de 2009; em Espanha, vinte anos de aborto legal têm como resultado um milhão de crianças mortas antes de nascerem; na Europa comunitária, faz-se um milhão e duzentos mil abortos cada ano; na Rús-sia, no último ano, o número de abortos foi igual ao de nascimentos; nos Estados Unidos, há mais de um milhão de abortos por ano. Por outro lado, são cada vez mais frequentes as notícias de crianças abortadas que sobrevivem durante longas horas de agonia, como sucedeu recentemente em Itália. Tais crianças, nos Estados Unidos, não têm direito a nenhum tipo de assistência médica – são tratadas sim-plesmente como mortas, estando ainda vivas... Os números poderiam continuar. Estes, porém, são suficientes para se entender a galeria de horrores em que o abor-to transformou muitos hospitais públicos e tantas «clínicas» privadas com dedicação exclusiva ao negócio da morte – tudo feito com a protecção da lei e, na maior parte dos casos, pago pelo dinheiro dos contribuintes. Depois, admiram-se que vivamos em sociedades cada vez mais violentas, emocionalmente exaustas, culturalmente decadentes, nas quais nenhum valor – a não ser o egoísmo individual – merece cui-dado e protecção.
3. A longa luta em favor da vida
Aqueles que se batem por um outro tipo de civilização, na qual os mais frágeis sejam os mais protegidos, têm um caminho longo e penoso pela frente. Serão cada vez mais ostracizados e olhados como inimigos do progresso e da liberdade. Tal, porém, é um pequeno preço a pagar, quando se olha aos objectivos: «Actuar em favor da vida é contribuir para o renovamento da sociedade, através da edificação do bem comum» (João Paulo II). Os cristãos não podem alhear-se deste serviço à comunidade – como, infelizmente, tem acontecido com alguma frequência. Nem podem cair na armadilha de dizer – seguindo o discurso da moda – que há outras causas igualmente importantes. Há, sem dúvida, muitas causas importantes, a merecer o empenho dos cristãos. Nenhuma, porém, é mais importante, pois esta define todas as outras. Afinal, apostar na «cultura da vida» é investir num futuro mais humano, o único que verdadeiramente importa. E vale a pena, vale todas as penas, mesmo se, por agora, a cultura da vida não surge particularmente valorizada no «mercado» das propostas concorrentes que se enfrentam na «bolsa de valores» onde se joga o presente e o futuro da humanidade.
Elias Couto

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