quarta-feira, 1 de setembro de 2010

E DEPOIS? …. E DEPOIS?


Hà umas décadas, além das escolas masculinas e femininas públicas, também os colégios particulares eram só para rapazes ou só para meninas. Aconteceu que, num determinado colégio, o prefeito (assim se chamavam os superiores), conversando com um dos alunos mais brilhantes que fazia tudo para alcançar os melhores resultados, lhe perguntou:
-Quando fores grande o que pretendes ser? E o aluno rrespondeu:
- Ai, eu gostava de ser engenheiro.
-Sim, diz o prefeito. E depois?
- Depois… hei-de fazer grandes projectos que sejam admirados por toda a gente.
- E depois? Continua o prefeito.
- Vou ganhar fama, ganhar muito dinheiro, casar, ter filhos, dar à minha mulher tudo o que precisar.
- Certo, diz o prefeito. São boas intenções dignas de todo o mérito e louvor. Mas… e depois?
- Depois… - o rapaz já começava a ficar embaraçado. Depois vou fazer tudo para ter uma velhice feliz, sem problemas, entreter-me com os meus amigos e, como acontece a toda a gente, vem a morte.
O prefeito ainda não estava contente com o ideal deste jovem que, pelo diálogo, já estava no fim da sua vida. Atirou-lhe com mais um “e depois?”
O jovem sentiu-se embaraçado e questionou-se: mas haverá mais algum “depois”?

É uma questão que muitos não querem colocar a si próprios e, muito menos, colocá-la perante seja quem for. Nem aos próprios filhos. Na verdade esta pergunta, que é um anseio, está inscrita no coração de todo o homem. Só o ser humano é capaz de pensar. Só o ser humano tem consciência de que há-de morrer e faz o possível e impossível para que tal não aconteça, mesmo sabendo que não há excepção. É que o seu desejo mais profundo é a vida, a vida para sempre: ser, ter, realizar, impor-se, dominar, gozar, satisfazer os seus caprichos mesmo que passando por cima do seu semelhante a quem, muitas vezes, não reconhece direitos. Muitos, tal como há milhares de anos, “fazem” prolongar a sua memória em sepulturas sumptuosas, em funerais exóticos, nas ruas que mandaram construir, levando uma vida que chame a atenção das revistas cor de rosa para que os seus nomes tenham lugar nas colunas sociais. Mas esta forma de viver e de pensar não dá resposta cabal ao seu instinto de “eternidade” bem gravado no mais íntimo de si mesmo.

O maior problema da sociedade actual está no “medo” de se interrogar, de olhar para dentro e procurar em si mesmo a resposta para as inquietações, pessoais e sociais, que a atormentam diariamente desde a falta de auto-confiança até à desconfiança de tudo e de todos. Pior: como o indivíduo não é capaz, por medo, de se auto-questionar sobre três aspectos básicos (donde venho, o que faço, para onde vou) muito mais receio e falta de coragem sente para colocar estas questões aos outros, começando pela sua própria família. Resultado: “vamos ver no que isto vai dar…. mais tarde…. talvez um dia….”. E a nossa sociedade continua a afundar-se, a inquietar-se, sempre com medo de colocar o dedo na ferida. E depois?

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