quinta-feira, 1 de abril de 2010

NA CRUZ…. compreendemos melhor o ser humano.



Nesta semana, propícia à reflexão sobre a vida e o sentido da morte, continuo a fixar-me na cruz e nas últimas palavras de Jesus Cristo, verdadeiro testamento.
Dizem os entendidos que a sede é um dosm piores tormentos para o homem. Jesus também exprimiu esta dor: “Tenho sede” (Jo. 19, 28). Quase sem sangue, em sofrimento atroz, Jesus quer saciar a sua sede, naturalmente física. Mas Ele, durante a sua vida de pregação, só consta que teve sede de água quando, junto ao poço de Jacob, disse à Samaritana : “dá-me água”. Todavia, analisando bem a conversa de Jesus, fica-se com a impressão de que se esqueceu da água (material) que tinha pedido. O que Jesus mostrou foi um outro género de sede: sede de conquistar o coração da Samaritana e de todos quantos, depois, ela foi buscar.
A ânsia de Jesus na cruz, mais que a sede física, é a sede de amor, de compreensão e de justiça. A sede de uma humanidade mais “humana”. A sede de viver bem no centro do coração do homem o que não acontece sem o livre consentimento de cada um, tal é o apreço pela liberdade do ser humano que Deus, na sua Criação, constituiu “administrador” de todas as coisas dotando-o de inteligência e de vontade. Mais, muito mais. Jesus Cristo sabia que ia partir e que, para além de todas as manifestações testamentárias ditadas do cimo da cruz, só Lhe restava para doar: a sua própria Mãe.
“Mulher, eis aí o teu filho; eis aí a tua Mãe” (Jo. 19, 26). Maria ainda sobreviveria alguns anos (não sabemos quantos) nesta vida terrena. Quem estava junto dela era João, o que escreveu o Evangelho com o mesmo nome. Jesus disse a sua Mãe, Maria, que aprtir daquele momento João seria o seu filho e que, insistindo na mesma ideia, João teria Maria como sua Mãe. Terá havido, alguma vez, sobre a terra gesto de tamanha ternura?! Qual o verdadeiro significado desta parte do testamento de Jesus? Haverá dúvidas que João, o único discípulo ali presente, representava toda a humanidade? Mas isto, para quem quiser fazer uma reflexão profunda, leva-nos a uma conclusão deveras grandiosa e maravilhosa: nós temos Maria como nossa Mãe! É verdade!
Lembram-se que um dia Jesus foi interrompido na sua pregação quandoalguém Lhe disse: “Mestre, estão aqui a tua Mãe e os teus irmãos!!!” Mas Jesus respondeu, fazendo uma pergunta e dando logo a resposta: “quem são a minha mãe, o meu irmão, irmã, parente? Todo aquele que faz a vontade de meu Pai é que é o meu irmão, a minha irmã, o meu parente”.
Na cruz, Jesus já prepara a humanidade para acolher Maria como nossa Mãe. Se somos filhos de Maria somos irmãos de Jesus. Se somos irmãos de Jesus somos filhos de Deus Pai e seus herdeiros. Não será caso para nos interrogarmos sobre o modo como vivemos, uns com os outros e todos com Jesus Cristo, para que sejamos dignos de ser chamados filhos de Deus? Não nos acarreta uma enorme responsabilidade o facto de, pelo Baptismo, sermos co-herdeiros com Jesus Cristo? Acho que não temos bem consciência da dignidade de que estamos revestidos!

Dizem que a solidão, mesmo quando estamos rodeados de muita gente distraida, é um dos piores sofrimentos capaz de conduzir ao suicídio. Jesus sentiu-a na cruz: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?” (Mt.27, 46). Jesus, como Deus, não podia sentir-se abandonado. Mas Ele falou como homem e constatou, nesse momento, uma realidade bem humana: o abandono pelos seus amigos, a amargura, a solidão, o isolamento. Todos troçavam d’Ele, o filho de Deus. Jesus, em atitude suplicante, pede ao Pai por tantos e tantos que, como Ele, são injustiçados pelos condicionalismos da vida. A sua prece é um grito que chama a atenção para a falta de solidariedade que deveríamos ter uns para com os outros, sobretudo nos momentos difíceis.
Hoje continua a ter sentido este grito, não de desespero mas de confiança, para que nos lembremos do pobre e abandonado que, muitas vezes, está mesmo junto da nossa porta.

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